Tom Milburn: “As pessoas querem ajudar se você permitir”

Tom Milburn sobre encontrar coragem para se expressar e por que a verdadeira liderança começa ouvindo

Para a maioria das pessoas que trabalham com Tom Milburn, as palavras confiante, capaz e positivo vêm à mente.

Como Diretor Global de Vendas da Maersk Training, ele liderou equipes internacionais, construiu relacionamentos sólidos com clientes e trabalhou em diferentes fusos horários a partir de sua base nos Emirados Árabes Unidos. À primeira vista, tudo parecia estável.

Mas no final de 2023, Tom começou a perceber que algo não estava certo.

“Eu simplesmente não me sentia eu mesmo”, diz ele. “Estava mais cansado, me irritava mais rápido e meus pensamentos ficavam se repetindo. Eu só me sentia um pouco estranho.”

“Percebi que já tinha passado por esse padrão antes. Dizia a mim mesmo para me manter ocupado, que ia passar. Mas desta vez eu queria fazer algo diferente, para tentar causar um impacto mais duradouro.”

Essa mentalidade, de enxergar a saúde mental como algo que vale a pena trabalhar em vez de esconder, foi o começo de uma mudança.

Uma mudança

Não houve um momento dramático. Apenas uma consciência crescente de que algo estava fora do lugar. Mais cansaço que o normal. Um pouco menos de paciência. Pensamentos que demoravam mais para ir embora do que deveriam.

“Por um tempo, me senti apático e preso”, conta Tom. “Tentar liderar um departamento quando você mesmo não está bem me fazia sentir culpado. Como se eu estivesse decepcionando as pessoas, mesmo que ninguém tivesse dito isso.”

É algo que muitas pessoas vivenciam no trabalho, independentemente do cargo ou setor. E, mesmo assim, muitas vezes não é falado.

Por trás da rotina familiar, muitos de nós estamos tentando, silenciosamente, passar por momentos que parecem mais pesados do que deveriam.

Ponto de virada: falar algo

Tom fez algo que nem todo mundo se sente confortável em fazer. Ele se abriu.

Começou com a família e amigos próximos, depois conversou com seu gerente, Jan Tore Knutsen.

“Ele me deu espaço. Tempo. Cuidou de mim mesmo quando estava sob pressão. Esse nível de apoio é raro, e sempre serei grato a ele.”

Tom também decidiu procurar um psicólogo. Esse passo, segundo ele, lhe deu a clareza e as ferramentas de que precisava para seguir em frente.

Uma técnica que ele ainda usa hoje é o registro de pensamentos da TCC. Isso o ajuda a conectar situações a sentimentos e pensamentos automáticos, depois testar esses pensamentos perguntando: isso é realmente verdade? Quais são as evidências a favor e contra?

“Parece simples, mas funciona”, diz ele. “Ajuda a interromper o ciclo de pensamentos negativos. Você percebe que muita da pressão vem das suas próprias suposições, não de outras pessoas.”

Apoiado pela rotina, sustentado por pessoas

Além da terapia, Tom focou em coisas simples que o ajudam a se manter equilibrado. Exercício. Descanso melhor. Escrever as coisas.

“Precisei voltar ao básico. Mexer o corpo, descansar de verdade e esvaziar a cabeça no papel. Essa estrutura me ajuda a deixar o dia para trás e seguir em frente.”

Ele também contou com o apoio da esposa, Alex, da família e dos amigos próximos.

“Eles foram incríveis. Apenas me deram paciência e estiveram lá para me ouvir. Isso me fez perceber o quanto sou sortudo.”

No trabalho, o mesmo apoio apareceu em pequenas atitudes também. Pessoas checando como ele estava, ouvindo de verdade e dando espaço quando necessário. Isso lembrou Tom de que criar um ambiente seguro e de segurança psicológica não exige grandes gestos. Basta consciência e consistência.

Mudando a forma de liderar

Hoje, Tom lidera com mais empatia.

“Sinto que estou mais paciente. Mais aberto. E tento criar para os outros o mesmo espaço que criaram para mim.”

Isso significa checar regularmente como as pessoas estão. Não só sobre tarefas ou metas. Significa reservar tempo para conversas informais. Estar disposto a ouvir sem precisar resolver tudo.

Ele também fala mais abertamente sobre sua própria história, o que ajuda outros a se sentirem seguros para compartilhar as deles.

“Falamos muito sobre segurança na nossa indústria, e para mim, segurança psicológica é igualmente importante. Significa poder se expressar sem medo, sem se preocupar com julgamentos ou consequências. E isso vale para nossa vida pessoal também. Se estamos tendo um dia ou momento difícil, isso é natural. Ignorar não ajuda ninguém. Nem nossas equipes. Nem o negócio. Nem a nós mesmos.”

Se alguém está passando por dificuldades...

O conselho de Tom é simples.

“Fale algo e busque apoio. Converse com um amigo, um colega, um profissional. O peso fica mais leve quando você se expressa. A maioria das pessoas quer ajudar. Elas só não sabem que você precisa, a menos que você diga.”

Ele sabe que a conversa sobre saúde mental ainda está evoluindo. Mas quanto mais as pessoas falam sobre isso, mais normal se torna.

Fatos

Saúde mental no trabalho: fatos e ações

• Cerca de 15% dos adultos em idade ativa vivem com algum transtorno mental

• Depressão e ansiedade custam à economia global mais de US$ 1 trilhão por ano em perda de produtividade

• Riscos psicossociais no trabalho, como funções pouco claras, comunicação ruim ou demandas irreais, podem afetar o bem-estar mental

O que a OMS recomenda

• Treinar gestores para reconhecer sinais de sofrimento e responder de forma acolhedora

• Incentivar conversas abertas e sem estigma sobre saúde mental

• Fazer ajustes quando possível, como horários flexíveis ou cargas de trabalho gerenciáveis

• Incluir saúde mental em políticas e práticas de liderança no ambiente de trabalho

O que é TCC?

TCC significa Terapia Cognitivo-Comportamental. É uma abordagem prática e estruturada que ajuda as pessoas a reconhecer e desafiar padrões de pensamento prejudiciais.

No seu núcleo, a TCC trata de identificar a ligação entre o que pensamos, como nos sentimos e como agimos.

No ambiente de trabalho, a TCC é frequentemente usada para gerenciar estresse, ansiedade e burnout, ajudando as pessoas a quebrar o ciclo de pensamentos negativos e construir respostas mais saudáveis à pressão.

Fonte: Organização Mundial da Saúde, 2022